O transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) é, ao mesmo tempo, um dos mais prevalentes e mais controversos transtornos cognitivos. Motivo de dúvida para os pacientes, seus familiares, amigos e até mesmo demais profissionais da área da saúde.
É essencial para um bom diagnóstico e tratamento, que informações falsas a respeito da patologia sejam esclarecidas. Uma boa educação do paciente e seu entorno, são essenciais para um melhor acompanhamento.
Há alguns MITOS e informações falsas sobre TDAH, que não são realidade na prática clínica e muito menos tem comprovação científica.
Mito 1: TDAH Não Existe, É Apenas Um Problema da Vida Moderna
Nos últimos 30 anos, há estudos e conhecimento suficientes para afirmar que o TDAH atinge famílias e tem herança genética. Há evidência de sequências de DNA que são fatores de risco para o quadro.
A evidência de um transtorno com base genética contrapõe a ideia de uma psicopatologia causada pelas demandas da sociedade moderna.
Há relatos de apresentações clínicas similares já citadas em escritos da Grécia Antiga.
Além disso, uma das mais recentes revisões de literatura, que avaliou mais de cem estudos, abordou a frequência de TDAH em diversos países. O principal achado mostrou que a frequência é muito similar na maioria dos países, forçando a ideia de que os aspectos culturais não causam o transtorno.
Uma variante desse mito é de que a frequência vem aumentando na população, principalmente por causa das demandas por desempenho da sociedade atual. Mais de 130 estudos revisados pela “World Federation ADHD” documentou claramente que não há aumento nas taxas nas amostras populacionais nos últimos 30 anos.
Contudo, é importante notar que o meio interfere sim a manifestação dos sintomas do TDAH. Um indivíduo com forte predisposição ou transtorno muito elevado terá os sintomas independente do ambiente, enquanto aquele sem predisposição ou transtorno muito leve não apresentará o quadro mesmo em sociedade mais exigentes. As exigências do ambiente são mais relevantes naqueles indivíduos no meio termo desses extremos. A demanda ocidental de maior planejamento e foco, por exemplo, pode fazer com que ocorra uma maior manifestação dos sintomas, enquanto um ambiente organizado e de suporte pode atenuar o quadro.
Mito 2: Crianças com TDAH São Menos Inteligentes
O estigma de menor inteligência é muito enfrentado por portadores do transtorno. Isso ocorre devido a interferência dos sintomas do TDAH nas conquistas acadêmicas, e julgamentos feitos por colegas, professores e até mesmo do próprio indivíduo.
É importante ressaltar que o TDAH é um transtorno que afeta algumas funções “executivas”, como por exemplo o controle inibitório, a organização de múltiplos processos e a atenção.
Uma possível associação com testes de QI diminuídos são falhos, pois para realizar esses testes sem ajustes, pode haver um prejuízo dos portadores de TDAH devido pior memória de trabalho ou atenção.
Não apresenta, portanto, relação com funcionamento cognitivo, que fica em outro local do cérebro. Não existem evidências que os portadores apresentem inteligência diferente da média. Podendo ter menor ou maior qualidade intelectual.
Mito 3: TDAH Não Acoentece em Adultos
Há três décadas, existia uma crença de que o TDAH era um transtorno da infância e que as modificações biológicas associadas com puberdade permitiriam a superação do transtorno pela criança.
Pesquisas ao redor do mundo demonstraram que o TDAH pode ser detectado em adolescentes e em adultos, sendo que a prevalência em adultos é em torno de 2,8% (podendo ainda estar sendo subestimada devido a informações falsas ou não diagnóstico).
Geralmente, a apresentação clínica é diferente em adultos. Há predominância de sintomas de desatenção, que determinam sintomas como esquecimento e procrastinação, em detrimento da hiperatividade. Impulsividade e perturbações de regulação emocional podem ser também mais importantes.
Falar, entretanto, que o diagnóstico de TDAH da infância é uma “sentença para a vida” também está errado. Como sempre, a assertiva não está em nenhum dos extremos. Embora não haja um consenso sobre a taxa de persistência, estudos sugerem que uma taxa de aproximadamente 50% permanece com algum sintoma.
A presença da síndrome completa, sintomas parciais ou apenas sinais, após a infância, também é variável. Dependendo da intensidade do transtorno, da pré-disposição genética, da maturação de determinadas áreas cerebrais e das terapias propostas na infância.
Mito 4: Medicações para TDAH Causam Vício e Devem Ser Evitadas
Não há evidência que relacione as terapias para TDAH com qualquer tipo de vício ou prejuízo grave. Há sim uma sugestão que o próprio transtorno seja fator de risco para abuso de substâncias, por exemplo.
Existe evidência substancial que o tratamento medicamentoso traz benefícios agudos em desfechos primordiais, como diminuição de acidentes, aumento das notas em testes acadêmicos, melhor convívio social, menores taxas de gravides ou DSTs na adolescência, assim como até mesmo redução da mortalidade.
O uso de medicações, quando bem indicado, pode trazer melhorias imediatas e até mesmo a longo prazo. É claro que não serão utilizadas em casos onde não houver necessidade, mas postergar demais o tratamento otimizado pode se prejudicial. Há fases primordiais do desenvolvimento intelectual de crianças e adolescentes, e melhorar o desempenho escolar por exemplo, pode ser essencial.
Existem diversas medicações com ótimas respostas, principalmente se acompanhadas de psicoterapia, as taxas de sucesso chegam próximas de 90%.
Em caso de necessidade, procure um Neurologista.