Não há um mês em que não vemos alguma notícia ou postagem retratando o TDAH como uma condição inventada ou criada pela indústria farmacêutica para vender medicamentos. Isso acaba gerando incerteza e medo em pacientes e familiares.
Analisando os argumentos, a maioria tende a ser: todo mundo tem desatenção ou hiperatividade e não existe comprovação científica desse transtorno. Esses dois argumentos precisam ser esclarecidos.
“Todos Temos TDAH?”
Desatenção, hiperatividade, procrastinação e impulsividade estão distribuídos na população, assim como outras variáveis médicas como pressão arterial, colesterol e níveis de glicose. Para definir uma patologia, um ponto de corte precisa ser estabelecido, no qual as chances de prejuízo claramente aumentam. Propensão a acidentes e maior fracasso acadêmico são alguns dos problemas enfrentados quando os sintomas atingem determinado estágio.
O fato de que todos temos um nível de pressão arterial, não torna todos hipertensos, mas não descarta a hipertensão arterial sistêmica, condição com prejuízo claro e que necessita resolução. Em doenças neuropsicológicas isso é ainda mais claro, a maioria das pessoas apresenta graus de ansiedade, mas não justifica que aquelas com graus extremos não mereçam avaliação, diagnóstico e tratamento.
Disfunções Cerebrais no TDAH
A ciência jamais irá encontrar uma anormalidade cerebral única em todos os pacientes com TDAH, isso é uma verdade. Porém isso ocorre, pois, o TDAH é uma síndrome, o que significa que indivíduos com o transtorno tem diferentes perfis de sintomas em uma das duas dimensões que caracterizam a patologia. Chamamos esse fenômeno de heterogenicidade fenotípica, nem todos os seres humanos são iguais, assim como nem todos pacientes com TDAH são iguais.
Sempre que pacientes com o transtorno são submetidos a ressonência magnética podemos achar alterações, como um córtex pré-frontal de menor espessura, mas isso não estará presente na maioria dos indivíduos. Porém, se não possuir alterações em exames de imagem excluísse o TDAH como doença neuropsiquiátrica, deveríamos também excluir autismo, depressão, esquizofrenia e demência por exemplo.
Além disso, há o fator genético. Há aproximadamente 37 estudos sobre TDAH com gêmeos. Eles indicam uma herdabilidade estimada de 74%. Há um componente estável ligado ao DNA que influencia a expressão durante toda a vida. Há também as causas genéticas dinâmicas, que são fatores que se “ligam” e “desligam” durante o desenvolvimento e influenciam a expressão durante início ou meio na infância, assim como sua possível persistência durante a vida adulta. A quantidade da manifestação dos sintomas tem influência também dos fatores ambientais.